Eduardo Fernandez; Marta Moraes. 2019. Ocotea curucutuensis (LAURACEAE). Lista Vermelha da Flora Brasileira: Centro Nacional de Conservação da Flora/ Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
A espécie é endêmica do Brasil (Flora do Brasil 2020 em construção, 2019), com ocorrência confirmada nos estados do: RIO DE JANEIRO, Municípios de Itatiaia (Silva Neto 325), Paraty (Farney 2584), Nova Friburgo (Martinelli 11931); MINAS GERAIS, Municípios de Bocaina de Minas (Barros 909), e SÃO PAULO, Municípios de Cubatão (Baitello 990), Ubatuba (Bertoncello e Pansoato 350), Campos dos Jordão (Arzolla et al. 1534), São Paulo (Pena 43), Itanhaém (Assis 1194), Pindamonhangaba (Arzolla e Braz 1018). Em Florestas Ombrófilas, ocorrem principalmente em altitudes entre 800 a 1.600 m, nas Serras do Mar e da Mantiqueira (Souza e Affonso, 2017). Em Paraty, foi encontrada em baixa altitude ca. 60 m (Arzolla et al. 2009).
Árvore de até 10 m, endêmica do Brasil (Flora do Brasil 2020 em construção, 2019). Conhecida popularmente como "canela do curucutu", foi documentada em Floresta Ombrófila Densa Montana e Floresta Ombrófila Densa Submontana associadas a Mata Atlântica nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. Apresenta distribuição restrita a florestas situadas entre 800m - 1600m de altitude, porém, com subpopulações abundantes nas localidades em que foi coletada (Souza e Affonso, 2017; Arzolla et al., 2009), principalmente dentro de Unidades de Conservação de proteção integral. Possui EOO=25028 km², próximo ao limiar de vulnerabilidade, número de situações de ameaça maior que seis, considerando-se os municípios em que foi registrada, e presença constante em herbários e em áreas legalmente protegidas de forma consistente por décadas, como o Parque Nacional do Itatiaia e o Parque Nacional da Serra do Mar. Entretanto, estima-se que restem apenas entre 11,4% a 16% da vegetação original da Mata Atlântica, e cerca de 42% da área florestal total é representada por fragmentos menores que 250 ha (Ribeiro et al., 2009). Ainda, estima-se que vivam no entorno da Mata Atlântica aproximadamente 100 milhões de habitantes, os quais exercem enorme pressão sobre seus remanescentes (Simões e Lino, 2003), principalmente nas áreas urbanas de Rio de Janeiro e São Paulo, as mais extensas e densas do país. O estado de São Paulo, onde a espécie foi mais frequentemente documentada, apresenta atualmente 13,7% da Mata Atlântica original, enquanto o Rio de Janeiro, cerca de 18% (SOS Mata Atlântica e INPE, 2019). A espécie poderia ser considerada "Em perigo" (EN) pelo seu valor de AOO, mas aparentemente, esta não possui grande especifidade de habitat, ocorre em áreas protegidas e possui subpopulações abundantes. Pela proximidade do valor de EOO do limiar para categorias de ameaça, e diante desse cenário de acelerada degradação ambiental verificada em ambos os estados de ocorrência, a espécie foi considerada "Quase ameaçada" (NT) novamente.
A espécie foi avaliada pelo CNCFlora em 2013 (Martinelli e Moraes, 2013) e consta como "Quase Ameaçada" (NT), sendo necessário que tenha seu estado de conservação re-acessado após 5 anos da última avaliação.
Ano da valiação | Categoria |
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2012 | NT |
Descrita originalmente em: Baitello, J., 2001. Acta Botânica Brasilica 15: 448, f. 2. Conhecida popularmente como "canela do curucutu" (Flora do Brasil 2020 em construção, 2019). Ocotea curucutuensis foi descrita com base no material de P.Affonso 168, tendo como localidade típica o núcleo Curucutu, no extremo sul do Município de São Paulo. Inicialmente foi considerada uma espécie endêmica desta localidade, porém, após análise de espécimes identificados anteriormente como Ocotea spixiana, a qual se assemelha por suas flores densamente pubescentes, de grandes dimensões para a família, pistilo e pistilóide muito robustos, talvez os maiores conhecidos para o gênero. Diferem especialmente quanto ao tamanho do fruto que é duas a quatro vezes maior em O. curucutuensis, além do pecíolo mais robusto e da lâmina foliar mais rígida (Baitello, 2001; Quinet, 2008). Pelas semelhanças entre Ocotea curucutuensis e O. spixiana e por ambas serem unissexuadas, Ocotea curucutuensis permaneceu desconhecida por mais de 100 anos, desde que o primeiro material botânico foi coletado pelo naturalista francês A. F. M. Glaziou, em 1880, na Serra dos Órgãos (RJ).
Estresse | Ameaça | Declínio | Tempo | Incidência | Severidade |
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1.1 Ecosystem conversion | 1 Residential & commercial development | habitat,occurrence | past,present,future | national | very high |
Perda de habitat como consequência do desmatamento pelo desenvolvimento urbano, mineração, agricultura e pecuária representa a maior causa de redução na biodiversidade da Mata Atlântica. Estima-se que restem apenas entre 11,4% a 16% da vegetação original deste hotspot, e cerca de 42% da área florestal total é representada por fragmentos menores que 250 ha (Ribeiro et al., 2009). Os centros urbanos mais populosos do Brasil e os maiores centros industriais e de silvicultura encontram-se na área original da Mata Atlântica (Critical Ecosystem Partnership Fund, 2001). Dados publicados recentemente (Fundação SOS Mata Atlântica e INPE, 2018) apontam para uma redução maior que 85% da área originalmente coberta com Mata Atlântica e ecossistemas associados no Brasil. De acordo com o relatório, cerca de 12,4% de vegetação original ainda resistem. Embora a taxa de desmatamento tenha diminuído nos últimos anos, ainda está em andamento, e a qualidade e extensão de áreas florestais encontram-se em declínio contínuo há pelo menos 30 anos (Fundação SOS Mata Atlântica e INPE, 2018). Vivem no entorno da Mata Atlântica aproximadamente 100 milhões de habitantes, os quais exercem enorme pressão sobre seus remanescentes, seja por seu espaço, seja pelos seus inúmeros recursos. Ainda que restem exíguos 7,3% de sua área original, apresenta uma das maiores biodiversidades do planeta. A ameaça de extinção de algumas espécies ocorre porque existe pressão do extrativismo predatório sobre determinadas espécies de valor econômico e também porque existe pressão sobre seus habitats, sejam, entre outros motivos, pela especulação imobiliária, seja pela centenária prática de transformar floresta em área agrícola (Simões e Lino, 2003). | |||||
Referências:
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Estresse | Ameaça | Declínio | Tempo | Incidência | Severidade |
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1.1 Ecosystem conversion | 2 Agriculture & aquaculture | habitat | past,present | local | high |
O município de Bocaina de Minas (MG) com 50379 ha tem 25% de seu território (12726 ha) convertidos em pastagem (Lapig, 2019). O município de Itatiaia com 24515 ha tem 16,2% de seu território (3983 ha) transformados em pastagem (Lapig, 2019). Historicamente, no município de Nova Friburgo e na localidade de Alto Macaé que está incluída na APA de Macaé de Cima, praticava-se agricultura de subsistência e de base familiar em pequenas e médias propriedades, com plantio de feijão, mandioca e hortaliças e, em menor quantidade, criação de animais (Mendes, 2010). O município de Nova Friburgo com 93341 ha tem 6,6% de seu território (9207 ha) transformados em pastagem (Lapig, 2019). | |||||
Referências:
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Estresse | Ameaça | Declínio | Tempo | Incidência | Severidade |
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1.2 Ecosystem degradation | 2 Agriculture & aquaculture | habitat | present | local | high |
A ocupação rural adensada foi classificada no Plano de Manejo do Parque Estadual da Serra do Mar como um vetor de pressão antrópica muito alta, ao passo que as pastagens e reflorestamento com Pinus e Eucalyptus foram considerados vetores de pressão alta. Destaca-se a aparente invasão de Pinus spp. em campos montanos do Núcleo Curucutu, que pode interferir na dinâmica das espécies nativas, levando à descaracterização da vegetação dos locais onde se estabelecem. Algumas áreas do Núcleo Itutinga-Pilões encontram-se bastante alteradas em função de plantações de Eucalyptus spp. (SEMA/IF-SP, 2008). | |||||
Referências:
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Estresse | Ameaça | Declínio | Tempo | Incidência | Severidade |
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1.1 Ecosystem conversion | 1.1 Housing & urban areas | habitat,occurrence | present,future | local | high |
A região de ocorrência da espécie em São Paulo trata-se de uma região de expressiva diversidade biológica, tendo como recursos paisagísticos, além da costa litorânea, composta por praias de rara beleza, a Serra do Mar e a Mata Atlântica. Essas características configuram-se num forte apelo à implantação de empreendimentos imobiliários voltados ao turismo, representado, principalmente, pelas residências secundárias. Especulação imobiliária, loteamentos irregulares, turismo predatório, assentamentos clandestinos, crescimento demográfico com significativo movimento migratório, são elementos que tipificam o processo de urbanização que vem ocorrendo de forma desordenada na região de ocorrência da espécie em São Paulo, particularmente no Parque Estadual da Serra do Mar (Borelli, 2006). O desmatamento foi classificado no Plano de Manejo do Parque Estadual da Serra do Mar como um vetor de pressão antrópica muito alta e a extração de madeira como uma pressão alta (SEMA/IF-SP, 2008). | |||||
Referências:
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Estresse | Ameaça | Declínio | Tempo | Incidência | Severidade |
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1.1 Ecosystem conversion | 1 Residential & commercial development | habitat | present | local | high |
Dentre as áreas de ocorrência, a região do Pico do Itapeva é aquela que se encontra mais ameaçada. Pelo Código Florestal (Lei Federal n o 4.771/1965), essa área situa-se em Área de Preservação Permanente (APP) por localizar-se acima de 1.800 m. Esse tipo de APP não tem restringido efetivamente a supressão de florestas e a conversão para outros usos na região do Pico do Itapeva. Tal área é de fácil acesso e está sob forte pressão antrópica, pela substituição de florestas nativas para a instalação de empreendimentos residenciais ou hoteleiros, e atividades agrossilvopastoris, o'que indica a necessidade de adoção de medidas efetivas de proteção (Arzolla etal., 2009). Apesar da proteção legal da área de Curucutu, projetos de grandes empreendimentos de infra-estrutura, como linhas de transmissão, represas e estradas de rodagem, ameaçam a integridade do parque (Garcia e Pirani, 2006). | |||||
Referências:
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Ação | Situação |
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1.1 Site/area protection | on going |
A espécie foi documentada dentro dos limites das seguintes Unidades de Conservação (SNUC): PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO MAR, ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL MUNICIPAL DO CAPIVARI-MONOS, ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DE CAIRUÇU, PARQUE NACIONAL DA SERRA DA BOCAINA, ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DE CAIRUÇU, ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL SERRA DA MANTIQUEIRA, APA CAMPOS DO JORDÃO, PARQUE NACIONAL DO ITATIAIA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DE MACAÉ DE CIMA, ÁREA DE PROTEçãO AMBIENTAL CARAPIá e MONUMENTO NATURAL MUNICIPAL DO PICO DO ITAGUARÉ. | |
Referências: |
Ação | Situação |
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2.1 Site/area management | on going |
A espécie ocorre no território de abrangência do Plano de Ação Nacional para a conservação da flora endêmica ameaçada de extinção do estado do Rio de Janeiro (Pougy et al., 2018). A espécie ocorre em territórios que serão contemplados por Planos de Ação Nacional (PANs) Territoriais, no âmbito do projeto GEF pró-espécies: todos contra a extinção: Território São Paulo - 20 (SP). | |
Referências:
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Ação | Situação |
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5.1.2 National level | on going |
A espécie foi avaliada como "Quase Ameaçada" (NT) e está incluída no ANEXO I da Lista Nacional Oficial de Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção (MMA, 2014). | |
Referências:
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Ação | Situação |
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5.1.3 Sub-national level | on going |
Considerada "Vulnerável" (VU), segundo a Lista vermelha da flora de São Paulo (SMA-SP, 2004). | |
Referências:
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Uso | Proveniência | Recurso |
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17. Unknown | ||
Não existem dados sobre usos efetivos ou potenciais. |